Criptomoedas e fundos de pensão: uma boa ideia?

Criptomoedas e fundos de pensão: uma boa ideia?

Existem diversas razões para que fundos de pensão não façam investimentos em criptomoedas ou em blockchains. Essa indústria ainda é muito recente, extremamente volátil e envolve bastante conhecimento técnico. Além disso, a regulação do setor ainda é muito frágil.


Por outro lado, os instrumentos financeiros de renda fixa nos quais os fundos de pensão normalmente se baseiam – como títulos públicos de longo prazo – estão pagando cada vez menos, hoje em dia. Então, os gestores tradicionais desses fundos, cujo objetivo é garantir uma aposentadoria confortável para seus participantes, têm enfrentado um dilema: como fazer render esse dinheiro em uma realidade marcada pela inflação crescente?


No fim, não surpreende tanto que os fundos de pensão – a forma de investimento mais cautelosa que existe – tenham passado a dar mais atenção ao boom das criptomoedas.

Primeiras experiências nos EUA


Um dos primeiros fundos de pensão americanos a investir em negócios na blockchain foi o Fairfax County Police Officers Retirement System – o sistema de previdência dos policiais do condado de Fairfax, no estado da Virgínia. Em 2018, o gestor alocou 0,5% em um fundo que estava investindo em negócios ligados à blockchain.


Em 2019, o gestor elevou para 1% esse investimento. Já em 2021, adicionou mais dois fundos de investimento ligados à blockchain à sua carteira. A meta atual de alocação é 2%, mas devido à valorização crescente das empresas baseadas em criptoativos, 7% do total de ativos do fundo têm relação com criptomoedas. Mais uma vez, os empreendimentos preferidos são aqueles que dão suporte à indústria, com foco em custódia e corretagem.


Este ano, a Fairfax sinalizou sua intenção de investir US$50 milhões na Parataxis Capital, um fundo de hedge em criptomoedas que investe em tokens digitais e em derivativos de criptos. O fato de esse fundo de pensão de policiais investir até recentemente em empresas relacionadas à indústria de criptomoedas, em vez de formar reservas em criptomoedas – por exemplo, comprar ações de corretoras, em vez de adquirir Bitcoin – não é incomum. 


Afinal, investidores institucionais dos EUA entrevistados recentemente pela Fidelity Digital indicaram que há uma maior propensão ao investimento em produtos relacionados às moedas digitais, em contraposição à compra e à venda direta de criptomoedas. 


Até mesmo fundos de pensão gigantes, como o California Public Employees Retirement System (CalPERS), que gere os fundos de aposentadoria dos funcionários públicos da Califórnia, têm colocado um dedinho para experimentar a água do oceano de criptos. Há alguns anos, a CalPERS começou a investir na empresa de mineração de criptomoedas Blockchain LLC.


Desde então, sua participação já chegou a 113.000 ações, o que equivalia a cerca de US$3 milhões no início de outubro deste ano. Apesar de esse ser um valor minúsculo, quando comparado aos US$133,3 bilhões em ativos que a CalPERS gere atualmente (pelos números mais recentes), demonstra que as criptos têm superado cada vez mais barreiras.

O quanto é o bastante?


Mas, afinal, qual é a alocação ideal de criptomoedas para um fundo de pensão, hoje em dia? Jim Kyung-Soo Liew, professor da universidade Johns Hopkins, nos EUA, foi co-autor de um dos primeiros artigos sobre criptomoedas e fundos de pensão, em 2017.  Segundo esse artigo, a alocação considerada ótima para Bitcoin em um fundo desse gênero seria de 1,3%. Isso capturaria totalmente os benefícios da diversificação com criptomoedas.


No entanto, alguns anos se passaram desde então, e o patamar ideal já não é o mesmo, como admite Liew. Segundo ele, um investidor institucional deveria focar em uma alocação entre 10% e 20% hoje em dia. Ele espera que os grandes fundos de pensão destinem até um quinto do seu total de ativos à indústria de criptomoedas em um horizonte futuro de três a cinco anos.


Essa parece ser uma previsão otimista, principalmente quando considerado o perfil conservador dos gestores de fundos de pensão. No entanto, Liew confia que, apesar de poder levar algum tempo até que os fundos entrem mais forte nas criptomoedas, há profissionais inteligentes tratando da gestão desses ativos. Por isso, é inevitável que eles acabem aprendendo mais e passando a assumir mais riscos nessa indústria futuramente.


Caso não haja restrições na regulamentação das criptomoedas, a tendência é de que a capitalização do mercado de criptoativos passe dos US$2 trilhões de hoje para US$20 trilhões em três a cinco anos, segundo o pesquisador.

Potenciais obstáculos


Ainda assim, pode haver outros obstáculos ao maior investimento dos fundos de pensão no negócio de criptomoedas. Um desafio comum é que os fundos maiores tendem a exigir tickets maiores. Ou seja, a indústria teria que amadurecer um pouco mais antes de começar a receber volumes de capital significativos. Além disso, a volatilidade das criptomoedas continua sendo o principal fator de preocupação para os fundos de pensão americanos.


Segundo o 2021 Institutional Investor Digital Assets Study, uma pesquisa cujo foco foi avaliar a percepção dos investidores sobre moedas digitais, ainda há uma visão negativa por parte dos fundos de pensão e de outros planos de benefícios. E isso ocorre mesmo em um cenário no qual os papéis do tesouro americano, ativos preferidos em fundos de aposentadoria, não prometem retornos significativos para o futuro próximo.


Para Liew, o que pode ajudar a romper essa barreira é o fato de os fundos de pensão lidarem com horizontes mais longos, o que permite a eles encarar melhor a volatilidade de curto prazo. Outro ponto positivo é que o conhecimento sobre criptomoedas está distribuído por outras partes do mundo e pode ser usado em benefício dos fundos de pensão, por meio da atração de talentos.

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